Dentre os monumentos que mais me impressionam na cidade do Recife, está a Cruz do Patrão. Esse assombro deriva de duas razões: A primeira advém das suas histórias: outrora fora cemitério de escravos e lugar para a realização de magia. A segunda, deriva do estado de completo abandono do local, que se encontra em um matagal espremido entre os armazéns açucareiros do Porto do Recife e o Rio Beberibe.
Conta-se que no passado, o local fora utilizado como cemitério de escravos. Um relato impressionante sobre o fato foi encontrado nos diários de viagem de certa inglesa chamada Maria Grahan no século XIX:
“O sol já ia baixo muito antes de termos alcançado sequer o primeiro dos dois fortes (Buraco e Brum, respectivamente) em nosso caminho de volta para a cidade. Os cães já haviam começado uma tarefa abominável. Eu vi um que arrastava o braço de um negro de sob algumas polegadas de areia, que o senhor havia feito atirar sobre os seus restos. É nesta praia que a medida dos insultos dispensados aos pobres negros atinge o máximo. Quando um negro morre, seus companheiros colocamno numa tábua, carregamno para a praia onde abaixo do nível da preamar eles espalham um pouco de areia sobre ele. Mas a um negro novo até este sinal de humanidade se nega. É amarrado a um pau, carregado à noite e atirado à praia, de onde talvez a maré o possa levar”.[1]
Apesar de escavações arqueológicas não confirmarem a veracidade do fato[2], é sabido que locais ermos eram utilizados para o abandono de cadáveres de escravos que eram descartados como peças.
Dentre outros episódios destaca-se o descrito por Gilberto Freyre onde afirma que:
“[...] os negros se reuniam para fazer catimbó e que certa vez apareceu o diabo, pegou uma "negra de toutiço gordo e sumiu com ela no meio d´água. Tudo isso, entre estouros e no meio de muita catinga de enxofre".”[3]
Existem, contudo muitas evidências, oriundas das escavações, de que o local era realmente utilizado para práticas religiosas Afro-brasileiras.[4]
Mesmo diante da riqueza e do valor simbólico para as comunidades Afro-descendentes do nordeste, a Cruz do patrão está abandonada. Existem diversos projetos de revitalização, entretanto nenhum foi ainda realizado.
[1] RAMOS, Ana Catarina Torres. Além dos mortos da Cruz do Patrão simbolismo e tr adição no uso do espaço no Recife. Disponível em: <http://www.ufpe.br/clioarq/images/documentos/V23N2-2008/artigo3.pdf> Acesso em: 24 jan. 2012. p.6-7.
[2] RAMOS, Ana Catarina Torres. Além dos mortos da Cruz do Patrão simbolismo e tr adição no uso do espaço no Recife. Disponível em: <http://www.ufpe.br/clioarq/images/documentos/V23N2-2008/artigo3.pdf> Acesso em: 24 jan. 2012. p. 6
[3] GASPAR, Lúcia. Cruz do Patrão. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 24 jan. 2012.
[4] RAMOS, Ana Catarina Torres. Além dos mortos da Cruz do Patrão simbolismo e tr adição no uso do espaço no Recife. Disponível em: <http://www.ufpe.br/clioarq/images/documentos/V23N2-2008/artigo3.pdf> Acesso em: 24 jan. 2012. p. 5